Com setor fechado, pediatras vivem clima de tensão em hospital
O Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed) relatou um clima de tensão e caos em que vive o setor de pediatria do Hospital Júlio Müller, em Cuiabá, que está com o pronto-atendimento fechado desde o começo de março.
Os pediatras relataram ao sindicato que o problema ocorre por falta de profissionais no setor. De acordo com Adeildo Lucena, diretor de comunicação do Sindimed, há apenas 11 médicos, mas é necessário mais oito na pediatria.
“O PA está fechado porque não tem pessoal suficiente para tocar o serviço, não há pediatra em número suficiente. Isso trouxe prejuízos para a comunidade, para o ensino. Mas a situação é ainda mais complicada”, afirmou Lucena.
Com esse déficit, os médicos são pressionados a trabalharem em condições impróprias, segundo ele. Fica apenas um profissional para atender quatro áreas dentro da pediatria e eles temem que ocorram adversidades.
“Os médicos que estão hoje atuando trabalham atendendo quatro setores dentro do hospital e eles não dão conta de fazer esse serviço porque pode ter problemas em dois locais ao mesmo tempo, uma intercorrência, uma urgência”, revelou o sindicalista.
Os pediatras também temem pela segurança dos pacientes. Por ser um hospital referência em realização de partos de alta complexidade, os casos encaminhados à instituição são de extrema gravidade. Porém, o único pediatra atendendo os quatro setores durante o plantão precisa decidir qual urgência irá atender primeiro e isso pode prejudicar outros casos também importantes.
“Se estiver nascendo uma criança na sala de parto e houver uma intercorrência na enfermaria, o médico terá que escolher qual vai atender. Isso coloca em risco as pessoas que vão ser atendidas. O profissional também fica em risco. Se acontecer algo, o médico será responsabilizado. O profissional fica com medo de trabalhar”, apontou Adeildo.
O sindicalista também revelou que os pediatras vivem em constante medo de sofrer represálias por parte da direção da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o hospital, caso apontem as irregularidades e cobrem a gestão a resolver o problema.
“Eles estão preocupadíssimos, inclusive se sentindo assediados, pressionados para fazer o atendimento sem ter as condições de trabalho necessárias”.
Segundo ele, a chefe do setor chegou a ser demitida do cargo por ter pedido a contratação de mais médicos para a pediatria.
“Eles não a mandaram embora, mas a tiraram do cargo de chefia. Ela teme também ser mandada embora”, afirmou Lucena.
Medidas
Ainda conforme Adeildo, a Ebserh se propôs a contratar quatro médicos até agosto, mas o pronto-atendimento deve ser reaberto na próxima semana, mesmo sem profissionais.
“Como vai abrir? Só se Jesus vier e multiplicar os pediatras como ele multiplicou os pães”, criticou o médico.
Para o sindicato, a única solução é a contratação em caráter emergencial para dar conta da demanda de todas as quatro áreas que compreendem a pediatria.
O Sindimed também convocou uma assembleia geral com os pediatras do Júlio Müller para o dia 20 de março, quando pretende deliberar uma ação judicial contra a direção do Júlio Müller para contratação imediata de profissionais.