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Pesquisa científica no Brasil: país caiu 7 posições no ranking mundial

O Brasil caiu sete posições no ranking mundial da pesquisa científica nos últimos dez anos, indica a pesquisa realizada pelo Instituto IQVIA de Ciência de Dados Humanos e divulgada em julho deste ano pela Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).

A perda de sete posições do país entre 2011 e 2018 foi a maior entre os 25 principais países no ranking global de pesquisa clínica. Neste período, o Brasil foi ultrapassado por países de menor PIB, população e mercado farmacêutico, incluindo Dinamarca, Egito, Hungria, Irã, Israel, República Tcheca e Taiwan.

Curiosamente, enquanto o Brasil está entre as dez primeiras posições nos rankings de população, mercado farmacêutico e PIB, ele ocupa o 24º lugar em termos de participação em estudos clínicos, com apenas 2,1% dos estudos.

“Esse novo panorama mostra que existem barreiras que impedem que o país alcance o seu potencial o que poderia nos levar para a 10ª colocação, atraindo um investimento estimado de R$ 2 bilhões, com efeitos na economia ainda maiores, em torno de R$ 5 bilhões”, comenta o médico cardiologista Claudio Tinoco, diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) e coordenador da Pós-Graduação em Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O excesso de burocracia e os cortes nos recursos nas pesquisas científicas estão entre os principais motivos dessa posição desfavorável do Brasil nos últimos dez anos. Especialistas consideram a questão crucial para os avanços no tratamento desses pacientes.

“O relatório destaca alguns pontos como contribuintes nesta queda: aspectos da regulação da pesquisa precisam ser mais esclarecidos e definidos, além de maior agilidade no processo de avaliação das pesquisas. Outros pontos que vemos são o número insuficiente de profissionais qualificados em centros que poderiam se dedicar a está pesquisa”, enfatiza Claudio Tinoco, que também é editor-chefe da International Journal of Cardiovascular Sciences, que tem como objetivo divulgar pesquisas científicas na área cardiovascular.

Além disso, as instituições públicas de referência, que poderiam possuir centros dedicados à pesquisa clínica como forma de captação de recursos e de oferecer tratamentos modernos e potencialmente de impacto clínico, muitas vezes não têm estrutura física e de pessoal para receber essas pesquisas.


Benefícios da pesquisa clínica
Participar em uma pesquisa clínica pode trazer diversos benefícios clínicos para a sociedade, que vai ter informações sobre a eficácia do medicamento ou tratamento avaliado. Além disso, há uma atração de recursos para o país e para as instituições envolvidas.

“Atração de investimentos, estímulo à produção e desenvolvimento científico, aumento do acesso à saúde e fortalecimento do sistema de saúde são alguns dos benefícios que a pesquisa clínica pode trazer”, destaca o cardiologista Claudio Tinoco.

“As pesquisas podem promover o aprimoramento de terapias já existentes, garantindo mais qualidade de vida para os pacientes ao reduzir reações adversas ou facilitar a adesão ao tratamento. Além disso, implicam em descobertas inovadoras, que podem significar a cura ou o controle de doenças graves, como o câncer”, aponta a oncologista Andreia Melo, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

É importante destacar que as duas áreas terapêuticas mais pesquisadas no mundo são oncologia e sistema nervoso central (SNC) 25, que juntas representam 42% de todos os estudos clínicos iniciados em 2018.

Neste recorte, o desempenho do Brasil é ainda mais tímido: dos 3.128 estudos clínicos iniciados em 2018 na área de oncologia, o país participa de 59, ou seja, 1,9% do total global (participação que era de 2,1% em 2014). Em relação ao sistema nervoso central, os números são ainda menores: participação de 1,3% do total global, com uma perda de 0,5 ponto percentual na comparação com 2014.

Vantagens do Brasil
Apesar das adversidades, o Brasil tem diversas vantagens que podem beneficiar a realização de estudos clínicos, como a sua relevância demográfica e econômica, a diversidade étnica e o custo competitivo comparado a outros países.

“Temos potencial para ser um país protagonista nessa área. Economicamente é muito interessante realizar estudos aqui, pois é muito mais barato do que na maioria dos países, além de termos uma população heterogênea, com uma enorme gama de genótipos, um fator crítico para alguns tipos específicos de estudos e de alta relevância para a pesquisa clínica”, defende a oncologista Andreia Melo.

No âmbito acadêmico
No âmbito acadêmico, as preocupações são especialmente relacionadas à falta de recursos financeiros, pois neste ano foram anunciados diversos cortes em bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado.

“Quando a pesquisa básica em oncologia é afetada, fica muito mais difícil que um novo biomarcador seja descoberto no país, por exemplo, o que nos colocaria em uma importante posição científica internacionalmente. Ao promover melhorias na área das pesquisas, também há o benefício de gerar empregos altamente qualificados, conhecimento, investimentos em infraestrutura e ambientes favoráveis à formação de cientistas”, lamenta Andreia Melo.

Para Claudio Tinoco, os professores e os alunos de cursos de pós-graduações, juntamente com as sociedades médicas, podem ajudar a virar este jogo e melhorar o ranking do Brasil nas próximas avaliações.

“Muito está sendo feito para reverter este quadro. Os cursos de pós-graduações e as sociedades médicas estão ativamente buscando contribuir para a mudança do cenário atual”, aposta o médico.


Úrsula Neves - Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.


FONTE PEBMED